Vender local Vs comprar global
Numa sociedade mediatizada e global importa perceber até onde podemos aceitar as regrar de uniformização impostas pelo mercado.
Como professora e responsável por um equipamento municipal tenho sempre a preocupação de referir, nas ações de sensibilização que faço com crianças e jovens, a importância da produção de bens de primeira necessidade de forma responsável e em harmonia com a natureza: a produção de alimentos em modo biológico ou até de forma tradicional, sem recurso a químicos e pesticidas proporciona alimentos mais saborosos e com benefícios para a saúde.
O mesmo acontece com a produção animal para consumo humano ou para produção indireta de alimentos como leite ou ovos… até aqui é tudo muito bonito e edílico… se tivermos em conta as pequenas produções!
Ideal ou idealista?
Ambas.
Ambas porque a pequena produção é necessária, não só como sinónimo de auto suficiência de quem os produz mas também porque os excessos de produção, supostamente, entrariam no mercado formando uma “espiral” cujos benefícios são importantes para a economia… mas a verdade é que esta equação tem uma incógnita que não podemos escamotear: como podem entrar esses produtos na economia? Como podem ser feitas estas vendas a nível local? Não podem.
Como dona de um restaurante não posso servir à mesa, aos meus clientes, aquelas batatas que o meu vizinho produz em pequenas quantidades ou aquele azeite virgem, produzido de forma biológica que levaria aos céus o palato de qualquer mortal!
E não posso porque lhe falta “o selo”! infelizmente as normativas europeias, que vieram introduzir regras na produção e comercialização dos bens encontraram em Portugal um território onde tudo é levado à letra… na mesma União Europeia, noutros países, as produções locais são acarinhadas e o seu comércio é incentivado e valorizado.
É facilitado ao agricultor um selo com o seu número de produtor e com as características do produto e os bens são escoados ao preço justo. Assim se cria valor para quem produz e para quem consome.
Deixa de haver intermediários, essa “classe” que enriquece à custa do suor dos que trabalham a terra com as mãos!
Nestas e noutras matérias, Portugal continua a viver num regime onde se é ”mais papista que o papa” !

Ludovina Lopes Margarido
- Ludovina Lopes Margarido, Correspondente na Guarda
Docente, Técnica Superior e Mestre em Sistemas Integrados de Gestão