Inquietude

Restauração - 1640
1640
Um dia destes vinha à estampa no diário Público, através da sua correspondente em Bruxelas que “diplomatas e responsáveis políticos” consideram que “Portugal só poderá aspirar a sair do atual programa de ajuda externa sem qualquer rede de segurança financeira – sob a forma de um programa cautelar – se conseguir sossegar os parceiros da zona euro sobre a firmeza do seu compromisso nacional em torno da estratégia orçamental para os próximos anos”. Li e não queria acreditar naquilo que os meus olhos viam.
É certo que nos habituámos, ao longo dos últimos anos a ouvir algumas vozes de Bruxelas, a esmagadora delas sem rosto, vir dizer ao Governo, à oposição e a todos nós, sob a forma de avisos, o que temos ou não temos que fazer para que eles nos deem a sua bênção ou seja nos emprestem o dinheirinho sobre o qual irão cobrar juros dignos de autênticos usurários.
Mas ficámos a saber ainda mais. Ficámos a saber que “oficialmente é o Governo português que terá de decidir como é que quer sair do programa de ajuda, embora seja certo que não poderá ir contra a vontade da zona euro”. Ou seja “faz o que eu digo, não digas o que eu faço”.
E para que não restassem dúvidas uma outra fonte, leia-se “outro diplomata europeu”, disse ainda à correspondente do jornal português “Portugal só está a beneficiar destes fluxos de capitais porque cumpriu e continua a cumprir o seu programa”, e “se surgirem dúvidas nos mercados sobre o compromisso nacional com a estratégia orçamental, será a debandada geral”.
Este recado visa, não tenho dúvidas, o Partido Socialista e o seu Secretário-Geral, António José Seguro. É uma inegável e descarada interferência na vida política portuguesa e tenta condicionar as decisões do maior partido da oposição, o que é deveras preocupante, perverte a democracia e o livre exercício partidário. Só falta mandarem suspender a democracia e anular as eleições. Isto tudo a coberto de um anonimato deplorável e inaceitável.

Europa
Depois é ouvir, internamente, vozes que repetem os recados protegendo-lhes a identidade, em prejuízo do direito de quem os lê, que continuam na ignorância de quem são os autores de tão vis sentenças.
Não podemos aceitar tais interferências naquilo que diz, fundamentalmente respeito, à vontade dos portugueses. Portugueses que saberão, na hora certa, escolher o caminho que querem percorrer, digam os senhores de Bruxelas aquilo que disserem.
Nem que seja necessário fazer outro 1640.

José Lagiosa
* José Lagiosa, Director – Adjunto
Esceve às 5ªs feiras a INQUIETUDE