O Turismo e o novo paradigma do interior, por Hugo Teixeira Francisco

O Turismo e o novo paradigma do interior.

Durante décadas houve um êxodo rural que ditou muitos territórios de baixa densidade do interior de Portugal ao abandono. Por falta de investimento, oportunidades e também pela “cultura” de emigração portuguesa, a pouco e pouco estes territórios foram sendo deixados pelas populações. Desde os anos 70 que o interior do país foi ficando desertificado: muitos deslocaram-se para o litoral e outros até para o estrangeiro, todos à procura de novas oportunidades e melhores condições de vida.

Nos últimos anos, e um pouco à imagem do que aconteceu no pós-guerra, também se assiste a uma nova vaga de emigração, mas desta vez de quadros superiores, alguns deles fortemente qualificados, que na incapacidade de encontrarem melhores soluções optam por emigrar.

Paralelamente, fruto do contexto económico nacional, assistimos atualmente ao regresso de alguma população para as áreas do interior e ao crescente interesse por atividades tradicionais como a agricultura ou o artesanato, atividades por vezes atualizadas e melhoradas, em função das necessidades dos mercados atuais.

Ora este fenómeno pode ser altamente vantajoso para os territórios do interior, se encarados como oportunidades de desenvolvimentos pelos diversos agentes locais. Trata-se da atração de população jovem, altamente especializada que pode trazer consigo conhecimento inovador, fundamental para a criação de uma nova identidade rural.

Sendo que existe uma clara oportunidade para estes territórios em benefício próprio, é fundamental que as entidades responsáveis se apercebam deste fenómeno e que tomem iniciativas concretas para a identificação de áreas de atuação que contribuam para o desenvolvimento local. As estratégias de desenvolvimento de territórios rurais sempre apontaram o turismo como um dos sectores fundamentais para o desenvolvimento dos territórios menos favorecidos, visto que esta atividade potencia a reconstituição e preservação do território, ao mesmo tempo que contribui para o desenvolvimento da economia local, atraindo visitantes, criando novos empregos e oportunidades, e permitindo que atividades outrora extintas voltem a surgir, promovendo novas fontes de criação de riqueza.

Recentemente a realidade é um pouco diferente, na medida em que o crescente interesse não é só exclusivamente direcionado para as atividades turísticas, mas generalizado a um vasto leque de outras áreas, nomeadamente à agricultura. Neste sentido pode-se afirmar que pela primeira vez em décadas é possível ansiar por um desenvolvimento integrado do interior, onde o turismo poderá, e deverá, continuar a desempenhar um papel fundamental, mas desta vez terá associado um leque de atividades que fará com que alguns destinos sejam verdadeiramente integrados e sustentáveis.

Neste sentido é fundamente que as autarquias, comunidades intermunicipais ou outras quaisquer entidades identifiquem, dentro dos seus próprios territórios, estas oportunidades e que criem condições para que potenciais interessados possam investir. Só assim o interior sairá verdadeiramente beneficiados desta nova demanda, criando políticas concretas, apoios ao empreendorismo e incentivando não só investimento “exterior” mas também promovendo investimento dentro do seu próprio território, junto dos seus jovens, escolas ou intuições de formação.

Como disse Edward de Bono “Todos estão rodeados de oportunidades. Mas estas apenas existem quando são vistas. E apenas serão vistas se as procurarmos”.

  • Hugo Teixeira Francisco, Colaborador Especializado do Jornal de Oleiros

    Hugo Teixeira Francisco

 

 

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