Turismo Sustentável e o Concelho de Oleiros
Temos vindo a debater o tema do Turismo em anteriores publicações deste jornal, nomeadamente na sua vertente “sustentável” e sua aplicação prática ao concelho de Oleiros.
Defendeu-se nestas páginas que aquela vertente assenta no conceito de desenvolvimento sustentável em que “produzir local e consumir local” é um dos princípios básicos. Vem este tema a propósito da experiência prática que hoje vivemos na gestão do Hotel Santa Margarida e das dificuldades que sentimos em aplicar aquele conceito.
Com efeito, é extremamente difícil, de acordo com as condicionantes legais aplicáveis à actividade, consumir a produção local se os produtores não estiverem preparados e organizados para esse efeito. No entanto, dado que o nosso compromisso de gestão assentava nessa ideia, é um problema que tentaremos resolver e estamos convictos que o conseguiremos.
O Hotel Santa Margarida e o conceito
Quando nos envolvemos no processo de candidatura à exploração do hotel Santa Margarida, conscientes da sua importância para Oleiros e do conceito que sempre defendemos, estabelecemos determinados objectivos que nos servem de guia e que nos permitimos partilhar neste espaço:
“O Hotel “Santa Margarida” terá como objectivo fundamental assumir-se como um factor de desenvolvimento local, numa perspectiva de sustentabilidade económica e social.
Assim, poderemos enumerar alguns dos principais contributos do hotel, que deverão constituir a sua “Missão”:
– Potenciar o aumento do número de visitantes do concelho;
– Fomentar a criação de emprego, num espírito de iniciativa empreendedora e geradora de riqueza, com incidência nas actividades ligadas à natureza, ao lazer e à aventura, através de parcerias com agentes locais;
– Incentivar à renovação de produtos já existentes, adaptando-os às novas tendências da procura;
– Promover a criação de produtos locais, contribuindo para processos de certificação, integrados na estratégia Oleiros/Geopark e no conceito de sustentabilidade;
– Criar ou promover a realização de eventos de índole gastronómica, cultural e musical que se assumam como motivação de visita;
– Contribuir para a qualidade da oferta gastronómica cultural (tradicional) baseado num serviço de excelência;
– Abertura à comunidade local, colocando o hotel ao serviço dos munícipes, por via da realização de workshops temáticos, de exposições ou de acções de formação, como complementaridade às estruturas já existentes;
– Desenvolver parcerias locais, com serviços de referência, que permitam uma ocupação permanente e atractiva dos visitantes;
– Promover a divulgação do hotel e do concelho no exterior.”
Passados cerca de três meses após a abertura do hotel, é com satisfação que constatamos que estes objectivos têm vindo a ser atingidos, o que reforça a nossa motivação em manter a mesma estratégia.
Poderemos, a título de exemplo, enumerar aspectos da actividade do hotel durante este período:
– Ao nível do emprego, o hotel gerou directamente trabalho para 14 pessoas, que constituem uma equipa jovem, a maioria com formação académica de nível superior ou com qualificação técnica relacionada com a actividade. Há ainda colaboradores provenientes do centro de emprego, com uma excelente experiência na actividade, muito importante para consolidar a qualidade do serviço;
– A aposta na gastronomia e nos produtos regionais está bem encaminhada e mantém-se como principal objectivo do projecto. É uma área que requer tempo para se consolidar, pelas dificuldades já referidas, mas que irá obter resultados;
– Apesar de se terem conjugado vários factores negativos (abertura no início da época baixa, pouco tempo para divulgação nos canais de distribuição, Oleiros não ser um local de passagem e a instabilidade económica que se vive) tem sido possível garantir níveis de ocupação aceitáveis, com aproximadamente 800 dormidas durante aqueles três meses;
– Em termos de marketing, têm sido realizadas várias campanhas, assim como a deslocação a Oleiros de diversos operadores turisticos e jornalistas, que têm proporcionado uma excelente notoriedade para o Hotel e para Oleiros;
– A adesão à rede “Aldeias de Xisto”, a inclusão do hotel no projecto da “Geopark/Naturtejo” e no “Turismo do Centro” são também determinantes na mesma estratégia de notoriedade;
– As diversas iniciativas de índole cultural (músical, exposições, colóquios, etc.) têm sido um sucesso assinalável;
– O restaurante “Callum” demonstrou já estar à altura das necessidades do Concelho que se refere à realização de eventos e comemorações, prestando um serviço de qualidade que dignifica Oleiros.
Estamos hoje, mais do que nunca, em condições de reafirmar o nosso compromisso de “missão” com que iniciámos o projecto e em aplicar, na prática, os conceitos de turismo sustentável que antes defendemos. O percurso é longo, é difícil, mas é possível!
* Fernando Carvalho, Colaborador do Jornal de Oleiros
Janeiro de 2013